quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Tchad D1/40

Tchad D1/40

Sep 1, 2023

Estamos finalmente no Hospital Adventista do Béré. Acabei de pensar em inglês pra escrever isso (We're finally at the ...) porque acabei de vir de um culto de pôr-do-sol em inglês, mas depois preferi escrever tudo em português pra não correr o risco de mudar no meio. A verdade é que ontem e hoje lutei o tempo todo com o interruptor de idiomas na minha cabeça. Converso em português com papai, escuto algumas pessoas falando em francês, e outras em inglês, e na hora de ir falar acabo soltando tudo misturado. Já falei aqui, eu acho, mas até chinês entra na frente (Wō shí, tā shí, wôde pāpa). Vou começar pelo início. 

4:50 

Estou na pousada da CCDM, aguardando o motorista Laurent nos levar até a rodoviária ou ponto de ônibus. Estou na área comum dos quartos onde tem umas mesas, bancos o poltronas. Apesar de não estar tão quente, sentimos o calor ao sair do quarto c ar condicionado a 22⁰C. Ouço galos cantando e passarinhos começando seu canto matinal. A parte de fora desse prédio dos quartos tem um pátio de chão de terra, outro prédio desse, de tijolos de barro, e uns containers onde tem inclusive a recepção. Papai foi pra essa área externa sozinho, ainda escuro, enquanto eu espero aqui dentro. Mesmo sem ter saído, sou recebido pelo primeiro mosquito desde o início da viagem. Passo o repelente. Ali fora, papai faz filmagens do local. Pensei em lembrá-lo do perigo de filmar, mas acho que aqui dentro está seguro e vou deixá-lo em paz dessa vez. Agora, quase 5h, escuto uma chamada talvez em árabe num altofalante alto e com ruído estilo megafone, talvez originado de uma mesquita chamando os muçulmanos pra primeira oração do dia. Posso estar errado porque é muito cedo, então não sei. Enviei Whatsapp pta Nadia, que disse que Laurent provavelmente vai buscar ela primeiro, e combinou às 5h, então deve passar aqui depois que buscá-la.

O dia começou cedo. 4 da manhã acordamos e nos arrumamos pra Laurent nos buscar. Às 5 e pouca ele passou, encontramos a Daria, ele colocou nossas malas no bagageiro, que já não dava pra fechar com tantas malas, só amarrado pra manter aberto pras malas não caírem. Saímos no escuro, papai foi na frente e eu e Nadia atrás. Mostrei pra ela fotos da minha família, de Evinha e de Yarin. Chegamos de madrugada à rodoviária, que já estava com vários ônibus e passageiros. Muitas crianças vendendo coisas de comer como amendoim dentro de garrafas pet, nos abordando. Deixamos as malas pro motorista embarcar e segui Nadia direto pro balcão de passagens e paguei a minha e a do papai. No informe disseram que era 9.000, mas dei 10.000 e não veio troco. Deve ter aumentado. Achei ótimo ter colocado as fitinhas verdes nas bagagens, assim fica bem claro quais são as nossas malas. Papai resolveu levar o mochilão em cima, mas depois que embarcamos e ela não coube no compartimento superior, ele teve que carregar ela no colo e se arrependeu, mas já estava muito confuso pra pedir pro motorista em francês pra abrir o bagageiro novamente. Daria, que estava sendo nossa intérprete, já estava sentada.

Ofereci levar pra ele mas não aceitou. No fim isso foi bom, vou explicar já já. Eu estava esperando que a estrada asfaltada fosse só o primeiro quilômetro, só o comecinho, como vi no relato de uns americanos que vieram no começo deste ano. Mas pra minha surpresa, foi asfaltado durante todo o trajeto até Kélo, somente com um trecho mais esburacado talvez entre a 2ª e 3ªs horas. Mas sempre com asfalto. Saímos 5:30 da manhã de N'Djamena. Umas 6:30 da manhã o ônibus parou e entraram acho que 2 militares e um deles, mais jovem, pediu pra eu e outros jovens/homens descerem do ônibus pra checagem. Eu não entendi nada, mas vi todo mundo descendo. Nadia explicou que eles queriam me revistar pra ter certeza de que eu não estava carregando nenhuma arma. Ok. Tensãozinha básica por estar sem meu passaporte, mas confiante porque os outros (Remadji, Nadia e Staci) falaram que bastava a cópia ou outro documento brasileiro. Levantei com minha mochila, que estava no colo. Foi bom porque se tivesse que explicar as coisas na mochila do papai talvez ia ficar enrolado, além dela ser bem maior e com mais coisas. Eu tentei descer pela frente do ônibus mas teria que passar pelo soldado e ele não estava me dando passagem, eu não entendia por quê. Nadia disse que tinha outra saída pelo meio. Logo olhei e vi. O soldado queria que eu usasse aquela. Ainda bem que ela estava ali pra traduzir. Bom, lá embaixo um outro foi abrindo cada ziper da mochila e olhando o conteúdo. Tinha um notebook velho e a pasta com documentos na parte das costas, ele nem pediu pra tirar. Olhou o ziper pequeno onde eu tinha minha carteira com documentos e alguns pendrives e conexões de USB. Eu falei "documants", porque se ele quisesse eu mostrava ou minha CNH ou minha carteira do CRM, mas ele não quis ver. Depois na parte grande eu tinha 2 bolsas menores, além de 4 caixas de Malarone. Ele viu cada uma. Mochilinha com roupa de frio caso precisasse. Bolsinha com itens de higiene pessoal, medicamentos e micropore dentro. Na lateral da bolsinha eu tinha guardado 2 notas de 10.000 francos, mas ele não abriu essa parte. Fora esse dinheiro só tinha notas menores dentro da carteira de documento, e todos os dólares guardados num envelope na pasta. Depois as outras partes só com carregadores, sabonete, carimbos e canetas. Ele perguntou se eu era "docteur" eu respondi que sim. Aí ele disse "ça bon" e me mandou voltar. Aí o soldado que tinha me mandado descer virou pra mim e falou "Carte!" como se estivesse pedindo minha "carte d'identidad" julgo eu. Aí o outro falou "ça bon, ça bon" indicando pra eu seguir. Continuei e subi no ônibus, passando por outro que estava na porta e só falou "ça bon" me dando passagem. Ufa! Foi o momento mais tenso do dia, eu acho. Papai, em cima, só olhava pra porta sem entender o que estava acontecendo. Expliquei. Depois seguimos a viagem e eu fiquei imaginando que de hora em hora teria uma blitz daquela, mas foi a única. O interior do ônibus era todo decorado de panos vermelho e laranja com franja, pendurados como cortinas pras janelas e enfeitando as bordas do bagageiro acima dos assentos. Nadia disse que nas casas das pessoas em Béré, eles penduram esses panos como enfeite, especialmente nas pessoas com mais condições financeiras. O ônibus seguia buzinando com frequência e logo entendi que era pra avisar pras pessoas saírem da pista quando tinha pedestres, ou mesmo antes de ultrapassagens pra alertar. Eu e papai estávamos sentados do lado esquerdo, mais ou menos na 4ª ou 5ª fileira, e Nádia tinha ido do lado direito uns 3 assentos pra trás, onde uma mulher sentou do lado dela. À minha frente à direita, um senhor ia com sua muleta feita de madeira com aspecto de ter sido talhada à mão. Atrás dele um casal, e atrás de nós 2 crianças (que vomitaram no chão, perto do final da viagem). Acho que a maioria dos passageiros era homem, mas tinha algumas mulheres também. À nossa frente tinha um relógio digital no teto, com números vermelhos, marcando a hora, o que ajudou muito a manter controle do tempo, e no meio também no teto, havia uma televisão pequena parecendo estilo antiga, de tubo. Deu pra ver quando ele ligou a mídia que tinha 65 itens. Foram tocando um a um, com um marcador no topo (13/65, 15/65 etc.) além da contagem de minutos de cada vídeo. Fiquei olhando pra ver se ia repetir mas não repetiu, alguns eram de 6 minutos, mas outros eram bem longos, como os filmes. Começou com alguns clipes musicais com música árabe eu acho. Teve bastantes artistas africanos cantando e tocando, violino, banda. Gravei um áudio pra Yarin só pro som sair no fundo e ficar guardado. Depois passaram uns clipes de comédia (esqueci o nome, era algo como Abagen Comedien) parecia ser em árabe o áudio, mas com textos de crédito em Francês. Passou um filme de luta chinês (tipo Shaolin talvez?) e também um filme baseado em fatos reais de um ataque à embaixada americana na Líbia. Áudio em francês nos dois. Ligaram o ar condicionado, e algumas pessoas fecharam porque estava fresco. Chegou até a chover durante 1 hora da viagem talvez. Nós não conseguíamos fechar porque não tinha a abinha de plástico. Lá pro meio da viagem, papai enfiou um plástico de insulfilm da mala lá e bloqueou a saída de ar do lado dele.

Um pouco antes diso, papai estava dormindo; vi que ele estava com frio (antes de conseguirmos fechar o ar) e coloquei uma blusa de frio minha em cima dele. Na mesma hora ele acordou e foi pegar a manta da mochila dele. Tipo, não, não precisa cuidar de mim, eu que cuido de você. Aí pegou a manta que estava enrolada na bolsinha, e ficou com pena de abrir, porque ia dar trabalho pra guardar. Kkk. Enfim, acho que foi logo depois disso que ele teve a ideia de fechar o buraco com plástico de insulfilm.

Bom, quando eram umas 3h e meia de viagem, o ônibus parou e o rapaz que estava na frente perto do motorista anunciou algo. Alguns passageiros desceram e foram urinar nos arbustos. Nadia explicou que era pra isso que tinha parado. Parece que também vi alguns homens agachados talvez defecando. Logo subiram e seguimos viagem. Mais pra frente paramos em Bongor, e ali foi uma parada maior de 15-20 minutos, e papai conseguiu encaixar o mochilão no compartimento superior pra poder viajar o restante sem peso no colo. Ali tinha gente vendendo frutas, e um banheiro com buraco no chão que era cobrado 50 francos pra usar. Nadia se ofereceu de pagar pra gente, imaginando que não tínhamos moeda, mas na verdade tínhamos uma moeda de 100 graças ao troco da guesrhouse CCDM. Mas no fim nem eu nem papai queríamos ir ao banheiro. Então ficamos esperando e depois seguimos viagem. Enfim o rapaz anunciou a chegada a Kélo, depois de 7 horas de viagem, umas 12:30. Eu vinha acompanhando de vez em quando pelo GPS do celular (mapas baixados para uso offline com o Google Maps), então já tinha visto que estava chegando. Apesar de que havia internet em vários pontos da estrada. 

(agora 23:46, enquanto escrevo, escutei o barulho de moto chegando perto da casa, e estou me perguntando se é alguma emergência cirúrgica, Dra Staci falou que podia ter. Deve ser difícil ficar de sobreaviso 24h por dia 7 dias por semana.)

Bom, chegamos a Kélo, e lá as malas desceram e uns rapazes com uniforme de mototaxi foram logo levando elas pra uma área de embarque das motos. Daria estava organizando tudo com o Christian, do mototaxi. Ele estava organizando 4 motos pra nos levar, e estava tendo uma discussão que durou alguns minutos; parecia que estavam competindo pra ver quem levava a gente. Finalmente tudo se acertou. Uma moto foi comigo, minha mochila, minha mala e um saco de pão (encomenda do próprio mototaxista), outra com papai, o saco dele deitado atrás e a pasta dele, outro com Nadia e uma mala eu acho, e outro bem carregado com 2 malas grandes e uma caixa plástica grande dela também. Abasteceram as motos em uma pequena barraca na beira da estrada onde um senhor com roupa árabe vendia combustível em garrafas de vinho. 

Logo no começo, vi que era muita água na estrada. O rapaz com as malas chegou a tombar com o peso, bem durante uma poça, com as malas caindo um lado na água. Levantou, ajeitou e seguiu. A minha mala veio bem amassadinha presa à parte de trás da moto com uma cordinha de borracha.

Fomos por vários atalhos que eu não entendi nada na hora. Essa não era a estrada que tinha visto no Google Maps, mesmo usando as fotos de satélite. Depois soube que a rua principal está totalmente alagada em alguns trechos, precisando usar canoa pra passar. Enfim, Nadia tinha dito que isso ia levar 1 a 2 horas, mas acho que levou 3. Digo acho, porque realmente não olhei a hora exata em que chegamos. Minha posição estava desconfortável, segurando nas laterais da moto ou na mala, e tinha que ficar atento a mato que passava e podia cortar minha mão, eram trilhas bem estreitas às vezes, e também ficar atento aos buracos, quando eu levantava um pouco pra facilitar passar em velocidade. Durante a viagem toda, algumas moscas pousavam no cabelo do motorista, e eu tentava assustá-las com a mão (sem encostar), foi quando reparei que a moto não tinha retrovisores. Capacete nem pensar (Nadia trouxe o próprio dela, segundo ela exigência dos pais), marcador de velocidade, combustível e aceleração parados, e odômetro também parado em 481 km.

A moto que ia com papai ia bem devagar. Acho que o rapaz estava querendo poupar papai de se molhar nas poças, e achei isso bem legal da parte dele. Depois de 1 hora eu acho, eu ficava achando que toda hora estava chegando. E nada de chegar. Nas vilas mais afastadas, quando nos viam (os brancos) nas motos as crianças gritavam "NASARAAA" (quer dizer "branco" em árabe). Papai acenava pra todas as pessoas, mesmo sem elas acenarem primeiro. Eu só sorria. Tinha a desculpa de que estava me segurando pra não cair. Mas a verdade é que não sei se é uma coisa boa sair acenando assim. A maioria das pessoas acenava de volta pra papai, mas alguns homens só falavam alguma coisa em tom sério (talvez em arabe) sem acenar , então isso me preocupou um pouco. Mas, depois de algumas motos empacadas no caminho, chegamos a Béré. O hospital fica logo na entrada, num complexo fechado e vigiado. 

Entramos e logo conheci o Charles, sua esposa Bernardine e o Carmeny, filho do casal. Também conhecemos o Dwayne, canadense que está aqui há 1 ano mas que vai em férias daqui a alguns dias, antes de 11/09. 

Charles me mostrou o complexo hospitalar, a construção de um novo centro cirúrgico (enorme, com a proposta de ter residência medica filiada ao PACS), e fomos ver o Centro Cirúrgico atual. Que Deus abençoe a vida dele. Ele é de Camarões, e disse que ama a floresta do Congo (que existe lá). Fala bem inglês e francês.

No Centro Cirúrgico conheci Davi, um rapaz que ajuda lá, e vimos que estava tendo uma operação. Estavam Dra. Staci e o Enf. Adamou (não tenho certeza se está correto, talvez seja Abani). Segundo Davi era um caso de mulher pós-cesárea em que havia pus na barriga. Pedi pra perguntar se queria que eu entrasse. Eles já estavam acabando. Dra. Staci saiu de campo e nos apresentamos pessoalmente. Ela explicou que parecia pus ao ultrassom, queriam ter drenado percutâneo, mas não deu, então fizeram uma minilaparotomia. Por fim não era pus, só líquido claro.

O enf. Adamou (ou Abani) saiu e conversamos. Enquanto Staci parecia exausta, ele estava com todo o ânimo, bem simpático e com brincadeirinhas. Staci falou que eu podia conhecer os pacientes no domingo, num Grand Round pela manhã. Adamou (ou Abani) ofereceu mostrar hoje mesmo. Então fomos, e ele me apresentou alguns casos:


Infirmierie des Femme:

- osteomielite na perna direita. Tratamento difícil, crônico, com múltiplos antimicrobianos

- senhora com DM, glicose 108, abscesso drenado em algum lugar.

- paliative mastectomy for breast cancer (young lady).


Infirmiere des Enfant:

- bebê de 5 meses com abscesso drenado no tórax

- criança 7 anos lá fora (não vimos) com nefroblastoma ressecado. Em QT em NDJ, avaliando risco benefício pra não comprometer o rim que resta.


Infirmiere des Homme

- recent prostatectomy complicated with urinary infection, receiving blood (ptt in bed). This one also had a tumor in his leg (or it was another)

- recent prostatectomy with UTI (ptt laying in a carpet)

- volvulus resolved without need to resection

- rapaz with hematuria for 2 weeks maybe, who had to receive multiple bags of blood, but with no hematuria now

- homem com necrose removida em todo o MSE, avaliando skin graft.

- young man with machete lesion in hand, trying to save the limb after suture.


Isolamento Sepsis:

- "milagre adventista" woman with advanced neck lymphoma, who had the tumor resected and now can breathe.


Surgeries: 0

Patients seen: 11 


Depois voltamos pra nossa casinha, tentei limpar o que deu e ao mesmo tempo fazer comida antes do por do sol. Queríamos fazer macarrão, mas não tinha sal nem tempero nem óleo, só o macarrão. Aí fui pagar Daria. Foi 6.000 a moto de casa um, e 5.000 o taxi de madrugada pra rodoviaria. Total 17.000. Paguei, peguei o troco e pedi um pouco de sal. Ela me levou até o mercado de emergência que existe na frente do hospital, onde eles vendiam coisinhas. Comprei sal, cebola e alho. O sal era grosso cheio de pedras grandes, a cebola bem mirradinha (50 francs ou 50 centavos de real, cada). Paguei 1000 francs e peguei 500 de troco. Encontrei Dra. Staci e falei que estou aqui pra ajudar. Sei das minhas limitações mas queremos dar o meu melhor. Papai estava do lado. Ela reforçou que eu provavelmente sou o cirurgião mais capacitado dessa parte do país, e que meu pai provavelmente é o anestesista mais capacitado de todo o país. O que pudermos fazer vai ser muito bom.

Daria, a esposa do Charles e o filho do Charles nos falaram do culto de pôr do sol que haveria na casa do Dwayne, às 19h.

Arrumamos um pouco as coisas na casa, fizemos o macarrão e fomos sem tomar banho mesmo. Chegamos 4 minutos atrasados, mas ainda não tinha começado. Percebemos que eles também não estavam esperando visitas essa hora, pois estavam no meio da janta. Até ofereceram comida, mas recusamos e fomos pra sala sentar no sofá. Estavam lá 2 filipinos, contadores auditores da igreja, e o casal Dwayne e a esposa. O filipino que fala mais se chama Archie. Eles estavam lá jantando, provavelmente tinham sido convidados pra jantar. Foram muitas histórias nesse culto. Fizemos uma boa interação com eles. Os filipinos vão ficar poucas semanas, e Dwayne viaja daqui 1 semana. Cantamos vários hinos, com a esposa do Dwayne (esqueci o nome dela, que também é Filipina) ao piano elétrico. Chegou o John, estudante de Medicina em LLU, que cresceu como TCK (pais missionários na China). Dra. Staci chegou e saiu algumas vezes mas ficou no final. Nenhum dos que nos chamaram apareceu. Dwayne gostou do jeito simples e das colocações do papai (simple life, it's all gonna burn). No final do culto, John disse que precisava sair porque morava fora do complexo então não podia ir tarde.

Estou percebendo que passei quase 1 hora e meia só escrevendo esse post, então preciso ver como vou enxugar nos próximos dias pra poder dar conta. Voltando a casa comemos o macarrão que tínhamos preparado, com alho, cebola e sal. Não temos óleo ainda. Estava bom, só um pouco sem sal. Deixa eu falar sobre a água daqui. A da torneira é de um poço bem fundo então segundo a Dra Staci é segura pra beber. Mesmo assim papai quis ferver pra fazer um leite quente. Quando olho a panela com agua fervendo parecia uma sopa escura e grossa. Mas papai só tinha botado água. Olhamos a água da torneira e era clara. Ficamos pensando que era sujeira do fundo da panela, mas como a panela é de ferro, e o fundo estava arranhado deixando o ferro à mostra abaixo de uma cobertura de cerâmica talvez, é possível que o ferro tenha saído da panela. Mais tarde vimos que isso acontecia mesmo com panela de alumínio e até com a água da minha garrafa quando ficava muito tempo parada, e com gosto de ferro. Deve ser água rica em ferro que oxida com o calor ou com o tempo, algo assim. Depois de 1 da manhã a Internet ficou boa e eu até consegui fazer uma videochamada com Yarin e Evinha, foi muito bom!


Saúde: bem. Fezes pastosas, sem diarreia, sem febre. 


Planos pra amanhã: ir à igreja. Estar de prontidão em caso de emergências cirúrgicas. 


Balanço de gastos. 

Dos 20.000 + 5.000 + 2.000 + 1.000 + 500 que estavam comigo, gastei 20.000 com as passagens e taxis pagando Daria (era 17.000 precisa checar se ela deu o troco). E gastei 500 na compra dos itens de mercado.

Tchad D0/40

 Tchad T0/40

Aug 31, 2023

Addis Ababa, 5:52

Ao contrário dos outros dias, estou começando a escrever essa nota no começo do dia. Com a cabeça confusa em relação a fuso horário, estou sem sono agora, às 5:52 horário local na Etiópia. 13⁰C lá fora. Aqui dentro do quarto de hotel 24⁰C. Tomei uma garrafa de 600ml de água aqui do quarto agora à pouco, não sei se vai ser cobrado, mas estava com muita sede. Também não sei se vai ter café da manhã, mas vamos descobrir logo, acredito que não.

Li sobre reparo de hérnia inguinal sem tela e agora estava lendo o livro do William Silvestre, Desafio no Deserto. Lá ele coloca muitos trechos motivadores e lições da Bíblia, selecionados especialmente para a experiência dele, de um missionário no Sahel, que também está sendo a nossa.

Uma das coisas que tem me atacado é a síndrome do impostor. Será que eles estão esperando um super cirurgião e vão se decepcionar comigo? Será que vou estar à altura das expectativas dos pacientes? Uma coisa eu sei, minha cara de novo, e os cabelos grisalhos do meu pai vão fazer todos pensarem que ele é que é o cirugião. A verdade é que não sei fazer todos os procedimentos cirúrgicos de cabeça, e sei que a demanda deles vai envolver várias operações que só vi na residência. Estou fazendo a minha parte de estudar e estar atualizado. Também vou precisar de tempo pra planejar cada procedimento. Preciso entender que a expectativa do outro não depende de mim, e saber que vou dar o meu melhor independentemente do que eles esperam. "Querido Jesus, me dê sabedoria para lidar com a questão da expectativa e da ansiedade; me ajude e coloque pessoas no meu caminho que vão me apoiar e incentivar. Em nome de Jesus amém"

Addis Ababa, 9:27

Agora estamos no portão A4 esperando o embarque, comendo pistache. Não precisamos passar por RX ao sair do hotel, saímos direto pra área de embarque. A água bebida no quarto não foi cobrada. O único susto que tivemos no hotel foi umas 6h da manhã alguém bateu à porta. Era o funcionário dizendo que está na hora de acordar. Disse que ligou mas que não atendemos por isso ele veio pessoalmente. Pagamos pra ficar até as 8h, então fiquei até um pouco supreso, mas sorri e agradeci o homem, fazendo sinal de agradecimento chinês. Aliás aqui a cultura chinesa é bem presente. Eles construiram o aeroportoa até.

Depois que o homem nos bateu à porta (já estávamos acordados) mesmo com o aviso de "não perturbe" ligado, a luz acendeu e apagou algumas vezes sozinha. E enquanfo eu tomava uma ducha quente, a água parou. Parecia que estavam "nos expulsando", mas pode ter sido só problema no banheiro.

Agora, aqui no portão estamos de volta, após um rapaz da segurança nos mandar ir pra outro portão longe (subimos 2 escadas sem ser rolante pra ir e voltar). Chegando no outro portão o rapaz estava lá e viu que a moça nos disse que não era, mas parece que fingiu que nunca tinha nos visto. 

Enfim, no caminho pro portão certo trocamos alguns dólares em uma loja duty free. Comprados 1 pacote de pistache por 15 USD e uma garrafinha de água por 1 USD, aí pegamos troco pra 100.

12:36 Horário de Addis Ababa

Estou no avião em direção a NDjamena. O vôo atrasou em 1 hora pra decolar. Não consegui entender o motivo. Eu e papai sentamos nos assentos do meio e corredor em um avião com 3 fileiras de cada lado. Tentei papo com colega da janela, chinês, mas sem sucesso (entendi que o inglês dele era ruim, mas não estava entendendo o porquê dele não entender meu chinês - depois quando estávamos nos levantando para sair do avião, ele falou com outros chineses, e aí me veio à lembrança uma palavra; eu estava tentando falar "meu nome é Gabriel" 我的名字是 Gabriel. Mas falei "Minha coisa é Gabriel" 我的什么是 Gabriel. Ri por dentro. Pensei se valia à pena consertad mas achei melhor não).

Estou escrevendo no Whatsapp mas sem internet.

Na hora da refeição, vi que tinha tipos diferentes de suco, e 1 dizia "Tomato Juice". Ah não. Se eu pudesse ter voltado atrás. Resolvi arriscar algo diferente e pedi. Ela encheu o copo com um suco concentrado parecendo molho de tomate. Quando provo... "arghhh" a careta foi inevitável. Era extrato de tomate mesmo. Ainda tentei dar um gole ou dois, mas acabou sendo útil mesmo foi pro almoço de macarrão com queijo do papai (o meu eu já tinha comido).

Espero que o Laurent entenda o atraso no vôo. Tenho o número dele mas sem whatsapp, e sem chip local. Bora ver como vai ser. 

18:53 horário de N'Djamena

Pousamos em N'Djamena, descemos pra um ônibus que se andou 100 metros foi muito. Ajudei uma senhora de aparência muçulmana a levar uma sacola bem pesada até o ônibus. Não falei, mas notei que havia muitos chineses no vôo de GRU pra Addis Ababa, e não vi nenhuma mulher com roupa tipica muçulmana, e nesse de Addis pra NDJ havia alguns chineses, alguns brancos com cara de americanos, mas a maioria pareciam pessoas de diferentes partes da África, e também havia mulheres com diferentes tipos de hijabs, desde alguns só cobrinho a cabeça até a burca preta dos pés à cabeça.

Chegamos à área de imigração e logo fomos preenchendo a fichinha de imigração. Enquanto estávamos na fila, consegui wifi do aeroporto e falei com Nadia, e avisar sobre o atraso do vôo. Na fila também conheci um homem (esqueci o nome dele), acredito que chadiano, que me ajudou a traduzir uma parte da ficha de imigração que não tinha entendido. Ele foi muito simpático e até me ajudou na hora da entrevista. Que Deus abençoe a vida desse homem. Na entrevista, meu pai foi separado, não sei como ele conseguiu conversar com o policial em Francês, mas o fato é que ele foi enviado pra uma salinha de polícia e eu também. La os policiais que só falavam Francês fizeram algumas perguntas que acho que respondi bem, mas faltava preencher alguns papeis, que o cara ia fazendo. Daqui a pouco chega um rapaz jovem, camisa e calça pretas, sem uniforme, mas todos os policiais mais jovens se levantaram num instante e prestaram continência quando ele entrou. Ele chegou perto de nós e falou algo em espanhol, tipo "buenos dias". Papai queria corrigi-lo e dizer que no Brasil é o português. Ele foi bem simpático, mas a papelada não acabava. Éramos os últimos, todos já tinham descido para a área de retirada de bagagens despachadas. De repende entrou uma moça/senhora falando em francês com os policiais, e acenando pra nós. Era a Remadjia, chadiana que ajuda os voluntários estrangeiros do AHI quando chegam ao Chade. Ela andava com um crachá na mão, e imaginei que ela era alguma funcionária do governo. Rapidinho nossos papéis se resolveram e pudemos descer. Lá embaixo, a retirada de bagagem mais bagunçada que já presenciei. Ainda bem que nossas malas estavam lá (além da mochila do papai, minha mala de mão também foi despachada no último embarque na Etiópia, bem na entrada do avião, porque já estava cheio). A bagunça que eu falei era por conta de uma fila enorme de pesssoas esperando passar num RX pra sair, mas várias outras furando e passando na frente. E nessa furação de fila nós entramos. Estávamos seguindo a Remadjia e eu falei pra papai: "não é possível que ela vai furar essa fila assim na cara dura". E era sim. O que me intrigou depois foi que o pessoal em vez de achar tuim dava era passagem pra gente. De alguma forma aquele crachá que ela carregava dava uma autoridade pra ela, será? Passamos no RX tão rápido que nossa bagagem e a dos outros foi se amontoando no final da esteira, tudo jogado pros lados no chão (é uma esteira no baixo). Era muita gente amontoada pra passar e pra pegar as malas. E não vi ninguém do outro lado olhando uma tela pra ver os itens. Na porta tinha 2 seguranças. Antes tinham nos avisado pra guardar bem os tickets de bagagem despachada porque eles iam pedir. Acabou que passamos rápido e talvez por conta do super crachá da nossa anfitriã, não nos pediram. Fora do aeroporto havia outro ponto policial na saída pra área de estacionamento, e nesse ponto a Remadjia devolveu o crachá pra um dos policiais. Fiquei sem entender e até agora não sei o que se passou ali. Depois escrevo quando descobrir. 

Aí fomos em direção ao carro do Monsieur Laurent, um senhor alto, um pouco grisalho, com roupa típica árabe. O carro é um Toyota carro sedan mas não consegui identificar o modelo.  Um carro bem antigo, rústico. Colocamos nossas bagagens atrás (mas dava pea pegar da frente) e sentamos nos banco que não tinham cinto de segurança. Nesse lugar algumas pessoas vinham querendo nos abordar pra oferecer carregar as malas, crianças pedindo dinheiro, oferecendo trocar dinheiro. Aí enquanto íamos nos ajeitando no carro a Remadjia falou, "vocês querem trocar quantos dólares?" Eu disse 100, mas era muito pouco segundo ela, aí fechamos em 400, e ela intermediou pro homem que estava nos abordando. Ele pagava 630 XAF por dólar (o que é melhor que a cotação no Google de hoje, 603). Só que nessa hora estávamos com os dólares espalhados em várias partes, alguns na mala, aí eu e papai fomos pegando e passando pra ela, e depois ela chegou a devolver algumas notas de 50 pra trocar por notas de 100, que ele valorizava mais. Só sei que no fim contamos juntos o dinheiro, e realmente estávamos com o equivalente a 400 USD, naquela cotação, em XAF. Só que papai ficou com uma pulga atrás da orelha com esse tanto de nota que ia e voltava, muito rápido. Eu confesso que também não consegui manter o controle de quantos  dólares estávamos dando. Remadji estava contando em francês e negociando ao mesmo tempo. Só quando chegamos ao quarto de hotel fomos contar com quantos dólares estávamos, e vimos que havia 100 a menos. Bom, pode see que achemos ainda no meio da bagagem, mas é possível que tenha ido a mais pro rapaz, não sei. Talvez depois descubramos. Dali fomos comprar o chip da Airtel pra ter internet. Foi tudo bem. Quando descemos do carro pra atravessar a rua pra loja do chip, um homem passando nos viu e exclamou "Anassara" (pelo menos entendi isso, que significa pessoa de cor branca, em árabe eu acho; e que os missionários James Appel e William Silvestre relatam em seus livros como sendo exclamações comuns quando um branco passa). Dentro da loja, papai estava querendo jogar um lixo mas não achava aí ficava se distanciando pra procurar e eu sempre com medo dele estar sozinho e acontecer algo. Éramos os únicos brancos no meu campo de visão, e mesmo sem querer chamávamos a atenção. Saímos de lá e paramos numa feirinha com frutas, mas dissemos que queríamos comprar coisas não perecíveis para a viagem. Aí nos levaram até um supermercado local. Achei os preços muito altos. Tinha o macarrão Barilla (a 2000 XAF o pacote de 500g, cerca de 20 reais) que tem no Brasil a 12 reais. O pacote de arroz com 5kg era 8500 XAF (aprox. 85 reais, ou seja, 17 reais o kg). Acabou que não compramos o arroz (que deve ter no Béré a 1 USD/kg) e levamos 3kg de macarrão à metade do preço/g do Barilla. Papai escolheu uma lata grande de leite em pó. Comprei 2 pacotes de bolinhos pra viagem do dia seguinte. O total de nossa compra foi uns 17000 XAF. Remadjia comprou coisas pra ela e deu a entender que não sabia se teria dinheiro pra pagar e eu ofereci pagar pra ela. A compra dela foi cerca de 18000 XAF, e passamos tudo junto. Aceitaram cartão de crédito Visa (Remadjia disse que MasterCard não funciona aqui). Depois fomos à sede da igreja pra conversar com os pastores e eles irem atrás do nosso visto. Chegando lá, portão de ferro alto, muros altos e arame farpado em cima. Dentro havia a casa do pastor Evariste, presidente da missão, e no mesmo prédio, a sede administrativa da igreja. Só que nenhum pastor estava. Pastor Sali, que já vinha mantendo contato comigo, estava de folga no Camarões, e Pr Evariste não sei aonde, mas pela conversa de Remadji com o rapaz que cuidava, parece ter ido a Abeché, no leste. Bom, depois disso viemos pro guesthouse da missão dos coreanos, CCDM (Chad Community Development Mission), um local que nem está no mapa, e conta com o mesmo esquema de segurança da igreja adventista, vi até câmeras na entrada. Pagamos o taxi do Laurent. Ele disse que o total foi de 17.500 (175 reais), porque teve várias corridas  etc, etc. Paguei 20.000 (só tínhamos notas inteiras de 10.000) e cadê o troco? Fica pro dia de São Nunca. Chegando aqui já paguei antecipadamente nossa estada porque vamos sair muito cedo amanhã. Nessa hora usei o máximo dp meu francês e o Google Tradudor pra falar com o rapaz do caixa. O quarto é confortável e não está quente. Paguei 2400 XAF pra usar o ar condicionado mas acho que nem vamos precisar. A diária pra cada um foi 10000 XAF (quase 100 reais). No pátio conheci um casal de missionários de longo prazo coreanos, que estavam com um bebê de 6 meses. Conversei e mostrei fotos de Evinha. Que simpáticos. Que Deus os abençoe em sua missão.

Os quartos dão pra uma área comum com cozinha, sala grande com pé direito alto e cozinha. Na geladeira, achei muito fofo colocarem bilhetinhos no Shoyu e no tahine dizendo que todos podiam pegar. Yarin ia amar ter contato com essas pessoas. Agora estou ouvindo um som de louvor com violão que talvez esteja vindo lá da sala, e acho que vou procurar alguma forma de interagir. Que Deus nos guie.

Saúde: boa. A afta na bochecha está diminuindo, fezes pastosas (tirei foto), sem diarreia. Alimentei-me bem.

Planos pra amanhã: Laurent deve nos buscar cedinho pra ir á rodoviária pegar o ônibus, um pouco antes das 5. Ali devemos encontrar Nádia e seguir umas 8 horas de estrada de chão até Kélo, e dali pegar 2h de moto até Béré. Tomara que cheguemos antes do pôr do sol .


Gastos:

Trocamos 400 USD para 252.000 XAF.

Balanço do dia:

"Entrada": 252.000

Saldo: 148.600

Saídas: 103.400

Detalhamento das saídas:

Taxista: 20.000

Taxa de visto: 30.000

Taxa de registro do visto: 10.000

SIM card + crédito: 21.000 (Airtel, comprado pacote 20 gigas)

Hotel: 22.400

Balanço fechado com sucesso.

Tchad T -1

T -1

Aug 30, 2023

Ontem embarcamos quase 1 da manhã (de hoje no caso). Era um Boeing 787, com 3 fileiras de cada lado e 3 fileiras centrais. Ficamos nas cadeiras centrais. Meu pai bem no meio e eu à direita. A outra cadeira ficou vazia durante todo o embarque, mas depois veio um rapaz chinês e sentou-se lá. Papai reparou que ele não comeu a salada na primeira refeição, e na segunda vez, pediu pra ele em inglês. Era em um potinho separado, coberto com insulfilm. Ele aceitou. Que Deus se revele a ele e lhe dê a alegria da salvação. Comemos 2 refeições iguais, com um prato principal com arroz integral, uma espécie de almôndega vegetal, legumes, salada de alface, pepino, frutas picadas e biscoitinhos. A viagem foi tranquila, levantei uma vez pra ir ao banheiro. Tomei o segundo comprimido pra malária junto com a segunda refeição, mas papai não quis tomar. Disse que quer ser como os missionários de lá que não tomam (porque é claro, moram lá, e não poderiam ficar tomando sempre). Que Deus proteja meu pai da malária. Eu gostaria muito que ele tomasse. É um comprimido de Malarone ao dia. Os riscos de reação adversa são raros. Mas não posso obrigá-lo. Ele leu a bula e pode ser que tenha ficado preocupado. Tentei explicar que os riscos de reações são  menores que os riscos da malária falciparum, mas sem efeito. Está nas Suas mãos, Senhor! 

Havia muitos estrangeiros nesse vôo, principalmente chineses. Chegamos bem, umas 7 da noite no horario local, após 11h de vôo, mais ou menos. Tivemos que passar novamente por um RX, e depois vim procurar o hotel em que estamos hospedados, o Skylight In-Terminal hotel. Pra achar foi só mostrar o papelzinho da reserva, que eu tinha feito pela internet e imprimido, e as pessoas nos ajudaram a chegar. No avião antes do pouso, tinham  os dado 1 voucher de hotel pra podermos sair do aeroporto e dormir lá, mas preferimos ficar aqui dentro mesmo.

O quarto é excelente, não sei nem dizer direito qual o nome do estilo, mas tudo mjito delicado, alguns detalhes minimalistas. Tomamos uma ducha quente boa, aqui está fazendo 15⁰C.  Na minha cabeça são 17:48, mas aqui já são 23:48, e precisamos sair amanhã antes das 8h. Quase não vi defeitos no quarto. Exceções: a água do box vazou pra fora, só tinha 1 toalha de banho (mas que eles rapidamente repuseram quando pedi), e o telefone está mudo (a solução foi usar o interfone ao lado da privada)

Saúde: fezes sólidas. Alguns gases a mais que o normal. Uma afta que surgiu na bochecha/gengiva à direita, talvez por eu ter dormido sentado de mal jeito no avião e machucado. 

Cirurgia: 0. Reli um email mandado por Olen Netteburg em 2018 falando quais eram os procedimentos mais comuns, e li sobre a técnica pra correção de hidrocele. Quero reler outros assuntos. 

Momento desafio: no avião comprei 1 hora de internet por 5 dólares (25 reais), e aproveitei pra falar com Yarin, ver vídeos de Evinha, etc. Também vi uma notícia de um brasileiro preso inocentemente na Etiópia porque a bagagem que estava acima da cabeça dele no avião tinha drogas. Fiquei pensando em quantas coisas podiam acontecer naquele vôo. Depois me tranquizei sabendo que Deus estaria conosco em qualquer desafio. Durante o vôo estive lendo o livro "Desafio no Deserto" do William Silvestre, e as histórias me motivaram ainda mais.

Planos pra amanhã: Amanhã é o dia de finamente chegar ao Chade! Vai ser nosso T0. Pegar o vôo pra  NDjamena, encontrar nossa bagagem lá (amém?!) e encontrar o Laurent e a Remadji. Devemos dormir amanhã à noite em uma guesthouse coreana, CCDM, pra partir na sexta cedinho para Béré.

Obs: Staci e Angeli responderam meu e-mail. Staci sugeriu irmos pra Beré na sexta mesmo sem os passaportes prontos, só com cópias. Aí iríamos com a Nadia Hasse, da universidade adventista Weimar, que fala Francês e conhece a viagem de NDJ pra Béré. Nossos passaportes originais ficariam com o Pr. Sali.

Reflexões: Tenho tentado ser bem simpático com as pessoas, ninguém merece atender um passageiro de cara emburrada, acho que um sorriso e uma palavra de ânimo podem mudar o dia de alguém.

Tchad -2

29 Aug 2023

Escrevo esse post de dentro da área de embarque internacional no Terminal 2, portão 262, do aeroporto de Guarulhos, com meu pai, já aguardando nosso vôo para Addis Ababa, que é nossa próxima parada rumo ao Hospital Adventista do Béré, no Chade.

Falei pra papai comprar um protetor de pescoço pro próximo vôo que será de 12 horas. Mas ele bate o pé que não vai usar. Tomara que fique bem sem dor no pescoço.

O embarque no Galeão foi tranquilo, despachamos a mochila do papai, que só vamos pegar em N'Djamena. Estamos levando uma mala pequena de mão minha, minha mochila high sierra, companheira de aventuras, e uma bolsa de couro, Samsonite do papai.

Escrevi um email pra AHI perguntando sobre detalhes finais de quem vamos encontrar em N'Djamena. Só pra garantir que vai estar tudo ok.

Cirurgias/Atendimentos: 0

Momento de desafio: na hora de passar pela polícia, pelo sistema do passaporte digital, o meu pai ficou um tempão sem o sistema reconhecer o passaporte dele, e por um momento eu achei que ele ia ter que pegar a fila normal (estava bem cheia). Graças a Deus que finalmente passou 🙏🏼

A despedida também não foi fácil. Quando liguei pra Yarin por vídeo, parecia que Evinha já estava maior do que quando a vi pela manhã.

Saúde/autocuidado: 

AlimentaçãoAlmocei arroz, feijão, tomate e couve no Oasis na vinda pro Rio. Acho que belisquei mais do que o comum depois disso: maçã, paozinho de côco da mamãe, biscoito de polvilho e biscoitinho de sal do avião, com suco de laranja. Tudo espaçado. Talvez encare algum lanche maior como janta agora à noite, antes da partida. Tem um Subway aqui perto do portão. Edit: fui ao Subway, eles tinham Teriyaki veg e estava uma delícia!

Saúde: me sentindo bem. Fezes sólidas.

"Senhor, obrigado por nos ter conduzido até aqui. Obrigado pela presença dos seus anjos. Mesmos falhos e pecadores, o Senhor mostra o seu amor por nós." 

Edit: depois de escrever o blog, meu nome foi chamado no som, pra comparecer ao balcão. Fui, e vi que a moça estava pedindo o visto das pessoas. Tive que voltar pra buscar o meu. Na volta, uma senhora simpática reparou que eu só tinha ido buscar o visto e voltado, e me deixou passar à frente (a fila depois só aumentou). Que Deus abençoe a vida dessa mulher. Na minha frente, escutei a situação de uma freira de roupa cinza, que tinha despachado 3 bagagens pela Gol, de outro lugar pra Guarulhos, e agora teria que pagar pela mala extra. Ela disse que na Gol falaram que seria sem custo adicional. Agora ela nem mesmo poderia pegar a mala despachada de volta. A mulher do balcão foi bem seca. Era pagar a mala extra, uns 250 dólares, ou não viajar. Depois a vi no avião. Espero que a situação dela tenha se resolvido de forma tranquila. Que Deus abençoe a vida dela. 

Ainda nessa chamada ao balcão, foi ali também que foi pedida a vacina de Febre Amarela. Meu pai também teve que ir, e escutou um cochicho de que alguém havia sido pego com drogas na bagagem. Que Deus ajude o criminoso a mudar de vida.

Faltou a seção planos pra amanhã

Tchad T -3

T -3 

Aug 28, 2023

Cirurgias: 0
Atendimentos: 0

Reta final para a viagem. Mala e mochilas prontas. Coloquei um gorro de cirurgia que Yarin fez pra mim e outro que comprei. Só estou levando uma roupa de centro cirúrgico, mas espero mandar fazer uma lá com o alfaiate da vila, talvez. Fora isso, do checklist só falta desodorante e protetor solar. (edit em 13/09: também esqueci lanterna)

Meus pais estiveram no sepultamento de minha avó Iracema hoje, em Pancas - ES, e estão a caminho de Campos no momento.

Saúde: boa

Planos pra amanhã: Sair cedinho (ver horário com meus pais) para o Rio de Janeiro, pra pegar o vôo à noite (20:05)

Tchad T -4

 27 Aug 2023 - escrito em 28/08

Cirurgias: 0

Atendimentos: bebê que pisou no cacto. menina no 9ºDPO apendicectomia com seroma para drenar.

Meaningful interpersonal interactions: NDN

Digno de nota: Minha avó Iracema Moreira Franca, faleceu aos 101 anos, hoje mais ou menos meio-dia e meia. O corpo irá para a igreja em Pancas hoje e o sepultamento será amanhã às 10h. Meu pai e minha mãe estão indo. Plantões dele cancelados. Obrigado, Senhor por meu pai poder participar deste momento, antes da viagem. Deus é bom o tempo todo. O tempo todo Deus é bom.

Saúde: boa

Planos para amanhã: Finalizar a mala e a mochila. Comprar remédios, fazer receitas.

Tchad T -5

 T -5: Aug 26, 2023 (Sábado)

Surgeries done: 0

"Hiperfoco": 
- Viagem para o Beré. Reta final. Falta comprar alguns medicamentos/bandaids. Penso em comprar umas caixas de sutura na Endotec segunda, para doar.
- Trabalho de apendicite: Standby.- quem sabe se tiver ânimo vou fazer umas pendências ainda hoje à noite.

Meaningful interpersonal interactions:
- A palestra foi bem animada, muitas gargalhadas com os meninos. Espero que tenha ajudado alguns a se esclarecerem mais sobre o tema da sexualidade.

Momento desafiador: falar sobre sexualidade pros adolescentes me pareceu bem desafiador, mas no final foi tranquilo. Usei o texto de Prov. 24:27 para falar de planejamento familiar.

Momento inspirador: NDN

Saúde e autocuidado: NDN

Reflexões: NDN

Planos para amanhã: Plantão de ciruriga no Hospital Ferreira Machado.