Vou registrar nesse post algumas experiências que passei enquanto servi no 7o Batalhão de Infantaria de Selva em 2015. Este é mais pra um logbook, pra registro, sem muitas reflexões, por isso as informações podem parecer meio "jogadas".
UIRAMUTÃ
A princípio, eu ia ficar em Uiramutã uma ou duas semanas, até o próximo médico vir me substituir. A viagem para lá foi o percurso mais acidentado que já fiz na vida, e talvez o mais bonito e perigoso. Algumas pontes de madeira davam medo. Filmei com o celular alguma coisa. Soube que outro médico que tinha servido antes teve dois dos pneus furados e teve que esperar um guincho. O tempo foi passando e a vinda do médico se atrasava. Nesse período por vezes faltava água, às vezes energia e às vezes internet. Um dia, durante a visita do comandante da companhia (2a Companhia do 7o Batalhao de Infantaria de Selva), o Major Zanini, faltou água, internet e energia ao mesmo tempo. Fizemos missões de ajuda humanitária nas comunidades ao redor, e o caminhão, a 5 ton, tinha que passar por pontes de madeira às vezes bem precárias. Em uma dessas passagens, o chefe de viatura (oficial mais antigo da viatura) falou pra passar pelo riacho, sem confiar na ponte; e ficamos atolados, esperando outra viatura rebocar. Houve uma revista surpresa aos armários dos soldados, e eu fiz uma apreensão de drogas no armário do soldado X, que foi preso e depois transferido para Boa Vista. Em um dos sábados, fui escalado como oficial de dia, mas me recusei a portar a arma, que ficou com o Ten. Luciano, comandante do Pelotão. Havia muitos mosquitos no meu quarto. Nos momentos de isolamento, chegava a conversar com eles, quando desistia de tentar matá-los. Houve um caso de coqueluche, do sargento de saúde que trabalhava também no posto de saúde local, que atende pessoas de fora do Brasil. Como ele tinha identidade indígena, foi removido de avião pela SESAI. Os aviões pequenos eram chamados de Papatango, pela sigla PT que levam, do alfabeto fonético internacional. Dei uma instrução de drogas e outra de primeiros socorros. Na instrução sobre drogas, falei sobre o álcool ao final. Logo depois da instrução, ia acontecer um churrasco no pelotão com bebida alcóolica. Em uma das instruções de tiro que acompanhei ali, pude disparar com pistola e fuzil. Houve um tiro acidental do subcomandante, mas foi em direção ao chão e não houve feridos. Diversas vezes, o Dr. Jaime, que ia me substituir, tentava se dirigir ao pelotão, mas a vinda dele era adiada, de forma que eu já estava há mais de 30 dias lá. Uma caixa com latas de carne vegetal da Superbom que um amigo de Boa Vista (o Felippe) mandou foi o que me salvou. O feijão do rancho geralmente tinha bacon, e às vezes o arroz também. Em um dos dias, só o que tive pra comer era alface. Em outro, nem alface. Emagreci. Foi quando li a respeito das provações que duraram quarenta dias na Bíblia. É algo que se repete. Senti que comigo ia ser a mesma coisa. Quando estava com 37 dias, me disseram que no dia seguinte seria rendido, o que acabou sendo frustrado e adiado para o dia 39 da minha estada lá. Foi quando percebi que também seria frustrado naquele dia e adiado para o dia 40, para ser correspondente ao que tinha lido. E foi dito e feito. No dia 39 não veio ninguém, e sim no quadragésimo, quando saí de lá, confiante de que Deus tinha um propósito para aquele período.
Em Uiramutã também foi onde encontrei uma família de adventistas que tinham se convertido na Guyana por missionários do Gospel Ministries International, com uma história incrível, que relatei em outro post.
BONFIM
Indo de 5ton de Boa Vista a Bonfim, um dos pneus estourou e fez um barulho parecido com tiro de fuzil. Eu estava na carroceria. Ela desviou para a outra pista, da contramão, mas graças a Deus não vinha nenhum carro.
Durante uma visita a Lethem com o irmão Celso, ele cochilou ao volante e desviou o carro para a outra pista, voltando justamente a tempo de passar uma caminhonete que vinha. Estávamos o seguindo e vimos tudo de perto. Graças a Deus pelo livramento.
Em uma remoção de militar com lesão de tendão do joelho por futebol, de Bonfim a Boa Vista, uma ave (carcará ?) se chocou contra o vidro da frente da ambulância e o destruiu.
Devido à grande quantidade de lesões tendinosas no futebol, o esporte foi proibido no pelotão pelo Major Zanini.
Os dois sargentos que estavam há mais tempo em Bonfim eram o Sgt Bezerra e o Sgt Ferreira, que dirigia a ambulância. Os sargentos de saúde eram o Sgt Vanderson e a Sgt Cleo, um casal. Ele é guerreiro de selva.
SURUCUCU
Surucucu foi o pelotão de fronteira mais isolado que já fui, mas também o que tinha melhor conexão com a internet. A pista de pouso recebe o nome do Ten Nogueira, um tenente médico, que faleceu em um trágico acidente aéreo com helic[optero naquele pelotão. A história tem similaridades com essa notícia e essa também de 2011.
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