terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Lágrimas

//Relato do nascimento de Eva:

Filha, muitas datas foram marcadas para o seu nascimento. Uns diziam que era no meio de outubro, talvez dia 14 (mesmo dia da bisa Crisolita), talvez mais pro final do mês. No dia 26/10, sua mãe notou algo diferente durante o banho. Era uma coisa clara que estava no chão quase indo pro ralo. Ela pegou e mandou foto pra médica. Era o tampão (pelo menos parte dele). A data provável era dia 29/10, mas essa data passou e nada. Havia alguns meses que sua mãe já sentia contrações de treinamento, sem dor, e elas pareciam um pouco mais frequentes com o passar do tempo, até que...

Nas últimas semanas, mamãe passou a usar um remedinho (óleo de prímula), tanto pela vagina quanto pela boca, que ia ajudar no trabalho de parto. Passou 40 semanas, e na semana antes de fazer 41, mamãe fez um exame para avaliar seus movimentos e os batimentos do coração. Papai estava junto, que nem em todas as consultas do pré-natal (exceto uma). E precisava que você se mexesse um pouco. A doutora fez massagem na barriga da mamãe, usou uma buzina, mas nada te acordava. Até que a mamãe lembrou que você mexia toda vez que ouvia a voz do papai chegando em casa. Dito e feito. Papai falou perto da barriga, e você logo começou a se mexer.

Na sexta-feira mamãe fez um exame com Dra. Flávia Murta que viu uma dilatação de 2 a 3 cm, e descolou a membrana da bolsa amniótica. Mamãe estava com medo de sentir dor, mas foi só um incômodo. Ps. Estou escrevendo isso com vc no sling, e vou ter que parar e continuar depois porque o barulho do teclado está te incomodando, rs beijos. 27/12/2022 *observação de um pai coruja: na noite anterior, quinta-feira, a expectativa era tão grande, que papai fez um exame de toque vaginal na mamãe, e conseguiu sentir com a ponta do dedo a sua cabecinha ^^ o colo do útero estava mais ou menos uns 2 p/ 3 centímetros dilatado. Outro momento que guardo no coração é o primeiro ultrassom que eu mesmo fiz na mamãe, onde deu pra ver você beeem pequenininha se desenvolvendo na barriga. Você media o tamanho de um graozinho de arroz.

... continuando (10/03/2023)... nesse dia do descolamento da membrana amniótica, uma sexta-feira, foi orientado que a mamãe deveria fazer umas caminhadas após, então fomos "bater perna" no shopping Boulevard. Almoçamos por lá, e foi bem leve e divertido. O barrigão da mamãe estava lindo, enooorme. À noite, mamãe dormiu bem, a noite toda, e de manhã tomou um café da manhã leve (depois ela vem aqui escrever direitinho o que foi, mas se me lembro bem foi abacaxi e mais alguma coisa). Lá pelas 9:30 da manhã, aquelas contracoezinhas que a mamãe já vinha sentindo, se tornaram um pouco mais dolorosas e frequentes. Mamãe foi logo ficar setada num banquinho preto, embaixo do chuveiro morno/quente, o que aliviou bastante. Passamos alguns minutos curtindo aquele momento juntos, acompanhando as contrações por meio de um aplicativo, até que ligamos para a enfermeira Cristina, que logo nos orientou. Mais tarde, como as contrações estavam mais dolorosas e mais frequentes, a Cristina chegou e fez um toque vaginal, estava com 7 p/ 8 cm (!). Rapidamente pegamos as malas que já estavam prontas e descemos para o carro. 

Na saída para o hospital (aí já era umas 11:50), papai tomou todo o cuidado pra dirigir sem aumentar as dores da mamãe, passando devagar nos quebra-molas do condomínio, por exemplo. Chegamos à maternidade Lilia Neves, e Dra. Flávia e a equipe já estavam lá no esperando. Fomos logo para o quarto (infelizmente não era o quarto maior, mas pelo menos conseguimos espaço para a banheira), e ali mamãe passou a desenvolver o trabalho de parto. Papai estava do lado o tempo todo tentando ser a ponte da mamãe no mundo real, enquanto a mamãe, de olhos fechados o tempo todo, se concentrava tando que parecia estar em outro plano de realidade. A fisioterapeuta Bianca foi quem fez o papel de doula, ajudando, motivando a mamãe, e orientando. Entre uma contração e outra, ora a mamãe descansava, ora fazia exercícios pélvicos.

Até que num momento, papai percebeu que estava só ele e a mamãe no quarto (e você na barriga, é claro, rsrs). A equipe deixou a gente um pouco a sós pra tirar a pressão do momento. Foi bem nessa hora que numa das contrações, papai sentiu algo molhado no joelho. Era a bolsa rompida. O líquido que saiu tinha um cheirinho bem gostoso, que me lembrava xampu de bebê.

Não muito tempo depois, na contração mais forte que a mamãe já teve, você nasceu! Papai estava apoiando a sua cabecinha com a mão, e foi a primeira pessoa a te segurar (outro momento pérola que eu guardo com carinho). Logo que te apoiei, passei para a frente da mamãe, pra ela te ver e também era onde estava a Dra. Bárbara, pediatra, que precisava ver se estava tudo bem com você. Logo que viu que estava bem, ela te deu no colo da mamãe, mesmo com o cordão umbilical ligado. Um detalhe que eu reparei nessa hora é que uma das suas orelhinhas estava dobradinha, e até hoje você tem uma marquinha nessa orelha. Outro sinal que mamãe logo notou foi uma cartilagenzinha com 2 pontinhos na outra orelha, que perdurou alguns meses mas hoje parece estar mais fraquinha. Depois percebemos uma pintinha na sua coxa, que também parece que está cada vez mais apagadinha. Nessa hora, cantamos "Não há outro igual a você" e mamãe deu um testemunho do poder de Deus, gravado num vídeo.

Aí papai cortou o cordão umbilical, foram colocados uns clipes de plástico. A enfermeira Cristina pegou a placenta e fez 2 artes com ela, 1 com tinta e outra só com o sangue. Mamãe teve que ir receber uns pontos na vagina, e papai ficou com você no colo. Você estava tão calminha no colo do papai. Fiquei emocionado nessa hora e acho que salvei outra "core memory". Logo depois mamãe voltou e você foi pro peito mamar. É incrível como parece que você já sabia exatamente como sugar o peito, mesmo sem nunca ter feito isso antes! Passamos essa noite no hospital, e no outro dia à noitinha, viemos para casa. Foi sua primeira viagem na cadeirinha. Não era muito agradável, porque o colo é muito melhor, mas ainda bem que era perto. Até hoje você não gosta da cadeirinha, e reclama quando é colocada nela.

A primeira noite em casa foi incrível. Estávamos totalmente sem saber como cuidar de você! Como pregar os olhos sendo que tinha alguém tão especialzinha do nosso lado? Colocamos você no "Moisés" do lado da cama, e dormimos com a cabeça pro seu lado, olhando pra você e te admirando. Você dormia muito. Mas por incrível que pareça, notamos que desde o início, você já dormia em intervalos maiores durante a noite.

Bom, é aí que começa a parte das lágrimas. O peito da mamãe. depois de 2 ou 3 dias, começou a abrir feridas, e doíam muito. A mamãe lutava para só dar peito pra você, mas estava doendo demais! Fomos à cidade da Criança, onde uma moça odontopediatra nos orientou, e ficamos muito gratos, mas não resolveu totalmente. Doía tanto, toda vez que você precisava mamar, que a mamãe comparou essa dor a uma dor pior do que foi o parto. Um dia, papai viu as lágrimas de mamãe caindo sobre o peito dela, e você mamando, o leite junto com a lágrima. Outro momento marcante. Chamamos a consultora de amamentação Geisa, que marcou um dia para vir aqui em casa. Passamos o dia todo esperando e nada! No outro dia ficamos aguardando, passou o horário combinado e nada. Estávamos desesperançados. Até que a Geisa chegou. Mamãe ficou tão emocionada que chorou nessa hora. Papai também não conseguiu segurar as lágrimas e foi pro quarto chorar. Aí começou um tratamento que ajudou a cicatrizar as mamas da mamãe em 1 semana! Porém, isso significava que nos próximos dias, o mamá teria que ser por outro método: sondinha, seringa, copinho ou colherzinha. Usamos bastante a sondinha, e um pouco da colherzinha. Papai por alguns dias, foi quem acordou durante a noite para mamãe poder descansar. Pegava o leite da mamãe na geladeira, esquentava em banho maria, e te dava na sondinha. Eu colocava meu dedo junto com a sondinha na sua boca e você chupava como se estivesse mamando o peito. Senti uma conexão muito forte com você nessas horas da madrugada, mas mamãe por outro lado estava se distanciando, sendo apenas a fornecedora do leite. Até que finalmente as mamas cicatrizaram e mamãe passou a te dar o peito sem dor, o que foi um alívio e uma realização muito grande para ela.

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